Este final de semana estive em Cunha, interior de SP, e fui comprar shitake num pequeno produtor local, o Sr. Milton. Eu já havia estado na pequena propriedade rural dele uma única vez, levada pela minha amiga Gabriela Freire.
Chegamos e fomos muito bem recebidos pelo sr. Milton, com um sorriso nos lábios e uma serenidade em seu olhar profundamente azul e empático, mas que já veio se desculpando: “não tenho shitake, a produção está ruim por conta do frio”.
A minha cara foi de decepção, mas agradeci e já ia saindo, andando e me despedindo dele, quando veio a oferta: “não quer levar umas verduras da horta?”
Já houve tempos onde minha educação ou meu ego diriam não, obrigada.
Hoje, quando algo surge em meu caminho, estou aberta às possibilidades, aberta ao receber. Assim, respondi: claro que quero!
E lá fui eu, pra horta, seguindo o Sr. Milton, canivete na cintura e o mesmo sorriso de sempre. Colhemos alface, couve, azedinha, cebolinha, gengibre, batata doce. A cada item, ele olhava e me perguntava: Gosta desse? Eu respondia que sim…e ele feliz cortava e enchia uma sacola com suas verduras, legumes e hortaliças cheios de amor e vida.
No final, sacolas cheias e sorriso no rosto – meu e dele – pergunto quanto era.
E ele, de coração aberto, me diz: “nada, eu planto para eu comer e para oferecer pra quem chega, eu nunca conseguiria comer sozinho tudo o que eu plantei”.
Dou a ele o que eu tinha a oferecer naquele momento sem ser dinheiro: um abraço e muitas vibrações de amor e saúde. Fico já imaginando como retribuir, como trazer pra ele algum presente na próxima visita.
Sai de lá com o coração e a geladeira abastecidos. Feliz.
A Lei Sistêmica fala sobre o equilíbrio entre o dar e receber.
Se damos demais, podemos ficar sem. Primeiro eu me abasteço, vejo o que realmente preciso e o que posso compartilhar. E dou. E se eu apenas recebo, pode chegar o momento em que meu “recipiente” fique cheio demais, que não caiba mais nada, como se eu não tivesse mais espaço para aceitar coisas novas que venham. É preciso dar e receber o tempo todo, nos permitindo encher e esvaziar de tudo o que há.
Quando nos vemos sozinhos e com medo de algo nos faltar, corremos o risco de não enxergar essa abundância toda que existe no universo, podemos não ver que existe tudo em quantidade suficiente pra todos, se cada um souber usar somente a sua parte, sem desperdício, sem ganância.
Imagine que você esteja sozinho em casa e tenha apenas 1 quilo de arroz no armário. Nada mais. Você pode ter medo de passar fome ou se sentir infeliz por não ter opções diferentes, sentir que algo te falta.
Agora, pense que você pode chamar mais pessoas para repartir o seu alimento. E sim, pode faltar ainda mais! Agora, pense que se cada um trouxer o que tiver em casa, de repente, chega alguém com batatas, outro com alface, outro com feijão, logo vemos uma abóbora.
Um almoço farto e feliz se fará, onde antes havia apenas arroz, medo e tristeza. Todos comerão, bem e fartamente. Se bobear, vai sobrar pra levar marmita pra casa.
Cadê a falta, cadê a escassez?
Estava no medo. De que não teria mais nada.
De que se não dividisse ficaria com menos, de que o que tinha não daria, não seria suficiente.
Não foi esse o pensamento do sr. Milton ao dividir comigo os produtos da sua horta. Ele não acha que vai faltar. Ele carrega no coração a certeza de que se ele continuar fazendo a sua parte, todo dia é dia de colheita.
Meus produtos, em abundância, eu dividi com mais 2 pessoas, e cheguei em casa assim em plena abundância e feliz.
Se quiser ler mais um texto sobre este tema, veja este aqui:
A sua mentalidade é de abundância ou de escassez?