Antes de começar a dar minha visão sobre o tema, quero que você me responda:
– Você é autêntico? De verdade?
Sim, simples assim: você é você mesmo, sem máscaras, sem medos, sem copiar ninguém?
Que pergunta difícil!
Sempre a faço nos treinamentos, alguns mais corajosos começam a dizer que sim, que fazem o que querem, que agem do jeito que preferem…e tudo bem. Outros já começam a se questionar nesta pergunta e também, tudo bem.
É complexo mesmo. Filosófico até. De Shakespeare que indagou: “Ser ou não ser? Eis a questão.”, passando pelo oráculo de Delfos na Grécia, que cita: “Conhece-te a ti mesmo” e chegando aos tempos de Raul Seixas com sua Metamorfose Ambulante, onde ele “não quer mais ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, o autoconhecimento é um dos enigmas e desafios da humanidade.
Começa na anatomia. Os olhos veem melhor o que está fora. Enxergamos as falhas e virtudes alheias de forma muito mais clara e objetiva do que olhamos a nós mesmos.
E os pensamentos e memórias? Nestes podemos confiar? Olhar pra eles e nos lembrarmos de quem somos? Ah, mas estes vem com uma dose extra de percepções, que sobrepõem os fatos.
Nossa história não é lembrada por nós exatamente como os fatos aconteceram, mas sim como nós os percebemos.
Enfim, é muito difícil saber de fato quem somos de verdade, lá no fundo.
Nossa versão original seria aquela da nossa essência. O nosso bebê que ainda não passou por nenhum condicionamento ou aprendizado.
A nossa essência é como se fosse uma pérola, preciosa. Conforme os anos passam, nos ensinam o que é certo, o que é errado. Nos condicionamos aos moldes e modelos da sociedade, dos pais, dos amigos, da religião escolhida e a soma disso tudo vai ofuscando, cada vez mais, a nossa pérola. Criando camadas.
Por isso é difícil falar: qual parte sua é realmente autêntica?
Quem é você na essência?
E quais partes dos outros você veio somando e assumindo como partes de você?
Autoconhecimento é um caminho sem fim, entretanto existem meios para começarmos esta busca.
Olhe pra você lá na sua infância.
Tente se lembrar do que você gostava quando era criança e porque você fazia o que fosse: brincadeiras, estudar, comer, se relacionar. Como a sua criança lidava com o mundo e quais emoções isso lhe traz?
Olhe pra você agora e diga: O que você realmente gosta?
Você, mais ninguém! O que você passaria uma tarde toda fazendo, sozinho, sem que ninguém olhasse ou se importasse? O que você estaria comendo, lendo, fazendo? O que você faz para você mesmo e que ama? Independentemente dessa atividade poder gerar o resultado financeiro que você considera o ideal para você.
Como você interage com o mundo exterior.
Lembre-se novamente de ser natural, sem cobranças. Se dependesse somente de você, como seria a sua interação com o mundo externo? Como você conversaria? Com quais pessoas se relacionaria? Por quais canais se comunicaria? Qual tipo de linguagem você usaria? Ou você viveria mais recluso em seu mundo interior?
Olhe suas preferências.
Em tudo, temos preferências, mas nem sempre as colocamos como prioridade na hora das escolhas. Olhe para tudo: seu trabalho, alimentação, atividades, comportamentos. Comece a listar sua preferências. O que realmente você mais gosta? O que você realmente prefere em cada situação?
Observe o que te incomoda no outro.
Quando olhamos para outras pessoas temos mais facilidade de encontrar os defeitos. O que te incomoda nas pessoas que você convive? Tente enxergar o motivo pelo qual algo te traz esta sensação. Temos uma tendência de refletir os erros, logo, se rejeitamos algo é porque aquilo nos sensibilizou de alguma forma.
Nós também mudamos conforme as fases da nossa vida, o que vai dificultando ainda mais a enxergar esse nosso lado real. O que sou eu de verdade e o que é a minha fase atual, influenciado pelo momento que estou passando, é uma pergunta que muitos se fazem.
Ao passar por uma situação de separação num relacionamento, por exemplo, algumas pessoas acabam ficando mais distantes, mais frias. E se questionam: Eu sou assim ou me tornei assim por conta das situações que enfrentei na vida?
As duas opções podem ocorrer.
Por isso é importante olhar pra trás, analisar as emoções, se perceber e mais do que tudo: não se cobrar tanto.
Tudo bem não ter clareza sobre quem você é de verdade. Talvez a gente nunca tenha mesmo. O que vale, conforme disse Raul, é não ter a mesma velha opinião formada sobre tudo. É se abrir para se conhecer, se redescobrir.
Ser autêntico é olhar para dentro, fazer uma jornada em busca do seu verdadeiro eu, sem máscaras, sem sombras, sem personagens.
Apenas sendo você.
Para finalizar e refletir, trago o Paradoxo do Mito de Teseu, você conhece?
Teseu foi um herói grego, conhecido por ter se oferecido para enfrentar o Minotauro em seu Labirinto e ter conseguido voltar para a cidade de Atenas com os outros 13 jovens enviados para o sacrifício, no mesmo barco de madeira.
O barco foi deixado em exibição, mantido como relíquia. De pouco em pouco, suas partes originais eram substituídas por novas, a medida que as antigas apodreciam. No final de longos anos, o barco que estava em exposição já não tinha mais nenhuma peça do barco original, todas tinham sido trocadas.
Os filósofos se perguntavam: se todas as peças foram trocadas, ou a maior parte do original, o barco ainda era o mesmo? Era autêntico?
Portanto, quando se fala sobre o Paradoxo do Barco de Teseu, a referência que trazemos é sobre a essência, a autenticidade.
O mesmo paradoxo podemos trazer para nossa vida:
Qual a sua essência? O que ainda tem de original e autêntico aí, na sua versão atual?
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