Estava em São Paulo fazendo um curso e optei por ir de táxi ao local do evento. Sairia mais barato do que o estacionamento com manobrista, eu voltaria andando no final do dia e conseguiria manter minha rotina de atividades físicas e ainda me livraria do stress que é circular por Sampa em horários e vias costumeiramente engarrafados – ou seja, só benefício. Seria um percurso rápido, 5 km, em torno de dez minutos.
Chamei um táxi por um destes aplicativos modernos, esperei dois minutinhos e nisso chegou o Leandro, impecavelmente vestido, carro arrumadíssimo. Me lembrei na hora das últimas notícias, brigas entre os taxistas e seus concorrentes da Uber. De cara deu pra notar que Leandro não era de briga e sim de trabalho. Entrei e rumamos ao endereço que passei. Acredito que podemos aprender com as pessoas, sermos simpáticas e tornar o dia de quem cruza conosco mais agradável. Converso com as pessoas que cruzam meu caminho, dou atenção, dou meu tempo.
Mas nesse dia, foi ele quem me doou sua sabedoria. No caminho, Leandro me contou que é novo na profissão, trabalhava como operador em uma corretora de valores. Veio a crise, a demissão. Aqui podíamos contar uma história comum e triste, sobre subemprego, queda de renda familiar, abalo da autoestima. Mas essa não foi a história de Leandro (*).
A história é sobre superação, planejamento, metas e seguir em frente!
Uns meses antes da crise na corretora de valores, Leandro percebeu que os negócios estavam caindo, dia após dias. Menos clientes, algumas demissões, conversas e notícias sobre o mercado financeiro. Em conversa com amigos que eram taxistas, Leandro se informou e pesquisou sobre o mercado. Resolveu fazer o curso, se qualificar em uma nova profissão. Trocou de carro, já pegando um carro zero quilômetros, branco. Um mês depois, foi demitido. Os colegas demitidos juntos ficaram desnorteados. Leandro começou a correr atrás de uma licença que permitisse que ele pudesse trabalhar. Vieram as dificuldades, as negativas, as burocracias, os pedidos de suborno. Ele não cedeu. Me contou que bateu na porta de muita gente, muitos desconhecidos. Em 2 meses, conseguiu uma licença alugada, para circular meio período e iniciou na profissão nova.
Perguntei se ele estava gostando, se estava estranhando algo e como estava o faturamento, se conseguia pagar as contas de casa. Ele me disse que estava indo bem. Semanas melhores, outras piores. Mas que como o táxi é meio período (ele trabalhava das 05 as 13 horas), a tarde ele consegue ficar mais com a família e aproveitou para montar um segundo negócio junto com um primo, já está com uma lanchonete perto da casa dele, onde trabalha a noite. Juntando as duas rendas, está tudo tranquilo! Casa sendo paga, filhos na escola particular, não falta comida! E disse mais: que hoje conversa com muita gente bacana, a noite fica cheirando fritura, mas que está bem mais feliz do que estava quando trabalhava de terno e gravata. Ele tem plena consciência de que é uma fase, que o mercado financeiro vai se reestabelecer, que continua se atualizando, vendo notícias, lendo assuntos…e que um dia voltará a atuar na Bolsa. Mas que por enquanto, ele está muito bem.
E o que eu aprendi (e nós deveríamos aprender) com as lições do Leandro?
– Estar atualizado: buscar sempre se antecipar aos fatos, para não ser pego desprevenido. Também se manter atualizado quando está fora do mercado de trabalho, mesmo que por um período curto. Nunca perder os contatos com as pessoas e referências da sua área de atuação. Leia, mande e-mails, participe de palestras e eventos, inclusive existem vários gratuitos.
– Ter plano B, C, D. Se o A falhar, você já tem algo na manga. Não esperar o plano A dar errado para então pensar, no meio do furacão, o que vai fazer. E mesmo tendo o plano B, porque não pensar em plano C, D… pense em atividades extras, rendas complementares, atividades que tragam pequenas remunerações, mas que somadas podem contribuir muito! Aplique-se em cada um para que tenha o melhor retorno possível.
– Se reinventar: se algo dá errado podemos reclamar, ou tirar o melhor proveito da situação, nem que seja um aprendizado, ou o tempo, que ele agora tem com a família. Nunca é tarde para aprender ou começar algo novo, mesmo que isso implique em você investir um patrimônio que guardou ou iniciar um novo curso, uma nova formação.
– Não desistir: muita coisa vai acontecer diferente dos nossos planos iniciais. Se você se formou em algo e tinha planos para trabalhar com isso o resto da vida e de repente viu aquela área ou atividade praticamente acabando, pode entrar em crise ou pode pensar quais os talentos, conhecimentos e habilidades você possui e aplicá-los em outros lugares.
Aprendi muito mais. Mas para mim, o principal foi ter passado 10 ótimos minutos do meu dia com toda a sabedoria, coragem e perseverança do Leandro. Desci, fui para o curso e ele seguiu sorridente, pronto para atender ao próximo cliente, se achando mais simples do que qualquer pessoa sentada ali no banco de trás. Leandro, você é grandioso, sou sua fã!
(*) Leandro é nome fictício, fiquei tão empolgada que não peguei os contatos dele!