Trabalho remoto (ou a falta dele), pressão por resultados e desenvolvimento, acúmulo de tarefas, comparação e autocobrança, isolamento social, incerteza sobre o futuro, mudanças bruscas, perdas das mais variadas. Como reduzir o estresse no meio deste cenário?
Quando olhamos para o que chamamos de fatores estressantes, situações que levam as pessoas a estarem esgotadas, é fato: estamos vivenciando um momento ímpar e que trará um impacto brutal quanto à saúde mental.
Alguns dados da pesquisa publicada pelo LinkedIn no dia 28 de maio buscando entender os efeitos do trabalho remoto durante a quarentena e como isso impacta a saúde mental do profissional brasileiro:
- 62% dos profissionais que estão trabalhando em casa se sentem mais ansiosos e estressados.
- 30% sentem mais estresse pela falta de momentos de descontração.
Nem precisamos de pesquisa. Sábado, 23h da noite. Foi a hora que eu encontrei para escrever este texto, após um dia de trabalho doméstico, ajudar nas lições de casa das filhas, fazer 2 reuniões e relatórios. E isso porque tenho bastante apoio, filhas e marido participam ativamente das atividades de casa, e mesmo assim, a jornada está puxada.
Quando olhamos a situação daqueles que somam ao trabalho e preocupação cuidar de filhos pequenos ou parentes mais idosos, o acúmulo de tarefas é devastador, conforme este matéria do jornal El País.
A matéria retrata o que acompanhamos diariamente. Somente esta semana duas clientes relataram ter tirado os filhos pequenos da escola: não deram conta do home schooling, acharam melhor perder o ano do que incorporar um sofrimento a mais para todos.
Cada qual com suas dificuldades e adaptações, o ponto é:
Vivemos um momento perigoso de aumento do estresse. Estamos sobrecarregados e exaustos.
Antes de seguir, vamos entender um pouco mais sobre esse tão famoso estresse.
O estresse é uma reação do organismo, com impactos físicos e emocionais, que ocorre quando nos deparamos com demandas de uma determinada situação que ultrapassam a nossa capacidade de adaptação, quando estamos diante de um evento que nos impõe um desafio maior do que estamos acostumados.
Segundo a lei de Yerkes-Dodson, desenvolvida em 1908 pelos psicólogos Robert M. Yerkes e John Dillingham Dodson e representada na imagem abaixo, o desempenho aumenta com a excitação fisiológica ou mental, mas apenas até certo ponto. Quando os níveis de excitação se tornam muito altos, o desempenho diminui.
Podemos dizer que o estresse em seu primeiro momento, de forma positiva, nos tira da zona de conforto e faz o organismo produzir adrenalina, o que nos dá energia e eleva a nossa produtividade e performance:
- ficamos mais vigorosos
- ficamos mais concentrados, com mais atenção
- acelera o metabolismo
- dispara a criatividade
A questão é a quantidade do que chamamos de agentes estressores, aquilo que está provocando a mudança e como nós reagimos a estes estímulos externos.
Trazendo a lei de Yerkes-Dodson para o momento atual:
No início da pandemia nosso cérebro foi hiper estimulado a buscar soluções para a crise e mudanças necessárias. A maioria de nós deu conta de tudo. Mas estas mudanças estão nos levando para o excesso, para a exaustão.
E pelo que tudo indica, as mudanças e adaptações não vão parar por aqui.
O relaxamento do isolamento social traz novas preocupações e mudanças:
- Cuidar da saúde: nossa, da nossa família, dos clientes e funcionários.
- Cuidar do financeiro;
- Adaptar a rotina, inclusive com o retorno de profissionais ao trabalho que possuem filhos, em que as escolas não voltaram;
- Adaptações dos modelos de trabalho e dos negócios ao novo cenário.
- A instabilidade econômica e política…
- …
E quando vamos reduzir a curva do estresse?
Esta preocupação não é apenas nossa. Nos Estados Unidos a Associação Psiquiátrica Americana (APA) enviou uma carta em 13 de abril ao Congresso notificando que conforme pesquisa da associação “mais de um terço dos americanos (36%) afirmam que o coronavírus afeta seriamente sua saúde mental”.
Na China, de acordo com uma pesquisa divulgada pela revista científica The Lancet, após o período de isolamento durante a epidemia, 30% das pessoas tiveram sintomas de estresse pós-traumático e 31% foram diagnosticadas com depressão.
No Brasil ainda estamos mais preocupados (ou alarmados) com o agente estressor – a pandemia e a crise que veio com ela – do que com os impactos mentais.
Porém algumas empresas já estão implantando ações preocupadas com a saúde mental de seus colaboradores, como o caso da siderúrgica Gerdau, que ampliou seu programa +Cuidado desde março para que a rede credenciada de psicólogos realize sessões via teleatendimento. O programa da empresa também prevê atendimento de saúde, social, financeiro e jurídico para os funcionários e seus dependentes.
Este é o caminho que muitas empresas estão seguindo: disponibilizar apoio em saúde mental, seja através da própria equipe de saúde, contratando profissionais dedicados ou negociando junto aos planos de saúde contratados.
Outras medidas para reduzir o estresse que eu já acompanhei:
- Concessão de day off: um dia livre na semana, para as pessoas descansarem ou cuidarem das atividades domésticas;
- Programas de bem-estar e saúde mental online;
- Programas de apoio psicológico e de saúde para profissionais que estão em atividades operacionais e suas famílias;
- Projetos sociais voluntários entre os colaboradores;
- Canais de escuta para os colaboradores poderem falar sobre seu dia-a-dia e dificuldades;
- Programas para aumento da interação e empatia entre os colaboradores
- Implantação de rede de apoio remota durante o isolamento, entre os próprios colaboradores.
Na minha opinião uma questão precisa ser vista, nas empresas e por nós profissionais: a redefinição de prioridades, forma e jornada de trabalho.
À partir do momento em que fica claro que não daremos conta de tudo, ou mudamos o ritmo de trabalho ou teremos que escolher entre trabalho e saúde, trabalho e família, trabalho e vida.
Algumas pessoas vivem na linha da subsistência e não podem se dar “ao luxo” destas escolhas. Outras, pensarão seriamente sobre o que estão fazendo da vida, mesmo que esta escolha leve a queda do padrão de vida.
Ganhamos um grande chacoalhão da vida. Precisamos ter mais consciência sobre o que estamos fazendo hoje, para que este pós pandemia não seja ainda mais nocivo do que a crise em si. E esta preocupação precisa ser de todos nós: profissionais, gestores, empresários, sociedade como um todo. Se passarmos por este momento igual entramos, não teremos aprendido boas lições.
12 dicas para ajudar a reduzir o estresse:
- Tenha clareza sobre os agentes estressores – situações, pessoas, pensamentos, notícias – e tente diminuí-los sempre que possível.
- Nossos pensamentos podem piorar a situação: viva um dia de cada vez, com foco no que você tem ação. Pensar em possibilidades ruins só irá piorar o quadro.
- Alimente-se bem e dê preferência a alimentos naturais (não industrializados).
- Descanse quando possível: na hora do cansaço perdemos foco e produtividade, tente fazer pausas durante o dia e dormir bem à noite.
- Cuide das suas emoções.
- Tenha uma válvula de escape: uma atividade prazerosa que eleve sua energia.
- Faça atividade física. Mesmo em espaços pequenos, tente caminhar um pouco e se esticar algumas vezes ao dia.
- Pratique atividades de meditação e relaxamento.
- Defina prioridades e diga não. Muitas vezes nos sobrecarregamos por achar que precisamos dar conta de tudo.
- Tenha uma lista de tarefas do dia. Isso ajudará a ter foco e prioridades.
- Busque ajuda. Você não está sozinho nessa.
- Mantenha a esperança e faça planos. Acreditar em dias melhores fará com que seus pensamentos fiquem mais positivos.
E dias melhores virão. Precisamos chegar sãos e salvos neles.
Se você tem bons cases de ações feitas em empresas para reduzir o estresse compartilhe conosco, pode servir de inspiração para outros.